Conceito Urbanístico do Bairro Alto

O B.A. deixa transparecer uma nova ideia de cidade, com pressupostos estéticos, com regularidade e funcionalidade. É sem dúvida um conjunto de normas constituídas, durante o reinado de D. Manuel, que lhe conferem uma unidade e coerência indiscutíveis, permitindo-lhe uma continuidade de valores arquitectónicos e urbanísticos até aos nossos dias. Como fenómeno urbano do século XVI, o B.A não é, naturalmente, o único exemplo. O seu significado particular, advém da sua enorme capacidade de extensão, permitida pelas grandes propriedades, que depressa, o transformaram na maior operação imobiliária do século XVI em Lisboa.

Aspectos Arquitectónicos
Vestígios arqueológicos da cerca fernandina, construída entre 1373 e 1375, persistem na vertente ocidental, sobre a Rua do Alecrim, no actual Centro do Chiado. Trata-se de um troço do pano de muralha, que ligava as portas de Santa Catarina ao rio.

A memória das Portas de Santa Catarina está, ainda hoje, expressa na forma do antigo Largo das duas Igrejas, através do modo como os dois edifícios (Igrejas da Encarnação e do Loreto) se encontram implantados. Do mesmo modo, as Ruas do Alecrim e da Misericórdia, são herdeiras e sucedâneas dos caminhos exteriores à muralha medieval. O Largo de Camões, uma praça, só urbanizada totalmente no século XIX, após a destruição de velhos edifícios, normalmente os palácios dos condes, como os de Pontével e do marquês de Marialva, e os casebres do Loreto; é relativamente recente, mas a ligação à Calçada do Combro revela a sobrevivência do antigo caminho rural.

A diversidade de tipologias arquitectónicas é marcante e, apesar do enquadramento cronológico ser fundamentalmente posterior ao século XVI, existem também testemunhos construídos e memórias urbanas de épocas anteriores.

Grande parte daqueles que são hoje edifícios de habitação exerceram outrora outras funções das quais foram destituídos. Estamos a falar de modelos tradicionais e eruditos e de tipologias de diferentes épocas: desde algumas importantes moradias, que pertenceram à nobreza e à burguesia em ascensão, no período pombalino e durante o liberalismo. A composição arquitectónica e certos pormenores decorativos, a nível dos portais e do andar nobre, marcavam a diferença. As plantas-tipo e os modelos construtivos remetiam-se à herança maneirista, a que se foram juntando progressivamente novas componentes de expressão barroca e classicista. Mas nem só de palácios foi feito o B.A. Habitações tradicionais de expressão vernácula, mais simples na parte ocidental, de vizinhança rural e mais elaborada nas zonas de inserção urbana, foram sendo sucessivamente construídas e deram e expressão a este bairro popular e aristocrata de cantarias simples, cunhais de pedra, grades de ferro forjado, azulejos decorativos de padrão geométrico e certos pormenores de desenho e janelas são aspectos que constituem uma certa ambiguidade e estabelecem o equilíbrio entre a unidade e a diversidade. Pormenores decorativos e até a introdução de elementos cromáticos são características típicas da arquitectura tradicional lisboeta, que neste bairro se expressam com maior requinte.

Efeitos do Terramoto

A zona das Chagas foi completamente reorganizada, com destruição do tecido antigo e implantação de quarteirões pombalinos onde se inseriram prédios e palácios: a Rua da Misericórdia (antiga Rua Larga de S. Roque), tal como a Rua do Século (antiga Rua Formosa) modernizada com a reconstrução dos edifícios, de forma mais imponente.

As diferenças de estrutura e escala entre a tradicional malha quinhentista do B.A e o traçado pombalino das Chagas contribuíram para a separação mais efectiva das duas zonas marcada pela Rua do Loreto, que era um percurso exterior, até ao enfiamento da Calçada do Combro.

O interior do B.A. não sofreu transformações para além da desagregação das grandes edificações, como os palácios quinhentistas e seiscentistas. Alguns espaços públicos foram reorganizados, com a colocação da escultura urbana. Exemplo disso é a Estátua de Camões, no largo do mesmo nome (em 1867), e a Estátua a Eça de Queiroz (em 1903), em frente ao Palácio Quintela.

Começaram a surgir os restaurantes sofisticados (Tavares - 1874), populares (Alfaia - 1880) e proliferaram as tasquinhas. Estas eram frequentadas, não só pela população local, mas, principalmente por jornalistas e tipógrafos ligados à imprensa periódica que se instalou no Bairro.

Algumas Características que são únicas:

Estúdios
No século XIX, a instalação de estúdios, estendeu-se a toda a zona do Chiado e do Loreto, nomeadamente à Rua Serpa Pinto (antiga Rua Nova dos Mártires), onde residiam numerosos estrangeiros que vendiam as célebres imagens estereoscópios. À medida que a fotografia foi ganhando mais importância como arte social e como registo documental aumentaram os estúdios ou ateliers na zona, estendendo-se mesmo ao longo da Calçada do Combro. Alguns tornaram-se populares, como a Photografia Oriental, a Photografia Americana (Rua do Loreto n.º 61) e a Photografia Londres (Rua das Chagas n.º 19).

Também a história do cinema em Portugal está ligada a esta zona de Lisboa. A Rua do Loreto e a Praça de Camões foram espaços agregadores. O salão "Ideal", uma das mais populares salas de espectáculos da capital, abriu as suas portas ao público, no Loreto (em 1904), por iniciativa do industrial Júlio Costa, proprietário da empresa de filmes "Ideal". Na sequência desta tradição, foi inaugurado o "Chiado Terrasse" (Rua António Maria Cardoso) e destinado a um público aristocrata.

Jornais
Também os jornais, que proliferaram a partir da segunda metade do século XIX, se fixaram na zona do Chiado e do B.A, onde existiam as tipografias. Exemplo disso mesmo é o Diário de Notícias, cuja primeira instalação foi no B.A. Esta foi uma das mais importantes características e actividades do B.A, que contribuiu fortemente para a tradicional animação nocturna. Actual-mente, para além de pequenos núcleos tipógrafos, permanece apenas o jornal desportivo "A Bola".

 

Voltar à página do Bairro Alto

 
   
 
inLisboa.com | Rua da Atalaia nº 153 R/C 1200-039 Lisboa | Tel/Fax : (+351) 21 343 19 11 | info@inLisboa.com